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domingo, 17 março 2024

Como inteligência artificial pode ser aliada de pessoas com deficiência?

Inteligência Artificial
Imagem: Pixabay

Lembra do desenho animado dos Jetsons“? A história da família futurística contada na década de 60 tem se materializado cada vez mais em nossa vida. O uso de videoconferência, robôs, aspiradores autônomos, portas automáticas, tecnologia touchscreen, telefones e relógios inteligentes e aulas online eram algumas das previsões dos Jetsons para o ano de 2062, mas que já são realidade em 2024.

Mas as novas tecnologias estão indo muito além do uso pessoal e doméstico. E uma das áreas beneficiadas é a de tecnologia assistiva (TA) para pessoas com algum tipo de deficiência.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 18,6 milhões de pessoas com deficiência física. A ampliação do uso de TAs pode melhorar a inclusão e o bem estar do cidadão com deficiência. Porém, o alto custo e a dificuldade no acesso a tecnologias emergentes ainda são alguns dos maiores desafios.

Mas o surgimento da inteligência artificial (IA), combinado com a chamada IoT (Internet of Things, ou Internet das Coisas, está mudando a forma como deficientes físicos têm acesso a informação, comunicação, serviços rotineiros, entretenimento e inclusão social e digital.

Ferramentas baseadas em AI muito semelhantes aos serviços Alexa, da Amazon, e Siri, da Apple, podem fazer muito mais pelo bem-estar de pessoas com deficiência do que simplesmente verificar a previsão do tempo ou incluir itens na sua lista de compras. Hoje já existem interações que vão muito além dessas ordens cotidianas, que podem melhorar expressivamente o dia-a-dia de seus usuários com limitações físicas, e com um custo relativamente baixo quando comparado a outras tecnologias semelhantes.

Para compreender o impacto da IA no bem-estar dessa população vulnerável, eu e alguns alunos acompanhamos as interações entre assistentes de voz com IA e pessoas com deficiências físicas e visuais por 30 semanas. Os participantes do estudo receberam um kit com um assistente de voz, um Chromecast (para controle da televisão) e lâmpadas inteligentes.

O objetivo foi tornar as casas “semi-inteligentes”, de forma a facilitar as vidas dos participantes e entender como eles se relacionam com essa tecnologia. Os resultados da pesquisa foram baseados no histórico de interações registradas nos equipamentos, além de entrevistas e grupos focais com os participantes e seus familiares, e foram publicados na renomada revista Technological Forecasting and Social Change.

Olhos para os cegos e mobilidade para os paralisados

Ao interagir com a IA, os participantes da pesquisa puderam realizar atividades que antes eram consideradas impossíveis, como, por exemplo, acender e apagar as luzes. Esse ato pode parecer simples, mas imagine para uma pessoa tetraplégica, que não consegue se levantar da cama. A pesquisa mostrou que as pessoas com deficiência física ampliaram sua independência, realizando atividades que antes eram inacessíveis, mas que agora estão a um comando de voz de distância.

A conveniência da interação por voz com a IA e da obtenção das informações necessárias têm um impacto altamente positivo no bem-estar dessa população vulnerável. Um participante do estudo relata que houve um avanço significativo na melhoria da qualidade de vida dos deficientes: “Imagine uma pessoa como eu, que é cega e que não consegue saber se a luz está acesa ou apagada; basta um comando de voz para ter certeza de que a ação foi executada. São benefícios como esse que nos impressionaram”.

Os Jetsons da vida real

“Parece coisa de filme; quando vi, estava conversando com o aparelhinho”, relata outro participante. O estudo mostrou que a curva de aprendizado é baixa e que os usuários rapidamente se adaptaram, conseguindo extrair o máximo da tecnologia. Mas, apesar de ser relativamente simples, vários fatores ainda precisam ser ajustados para melhorar a resposta da IA, como a velocidade da fala, o sotaque, as gírias e os barulhos no ambiente.

Quando pensamos no impacto da tecnologia, geralmente focamos apenas no indivíduo, mas a pesquisa revelou que os benefícios também são coletivos. Um aspecto interessante é a interação dos familiares com o assistente de voz. Ao analisarmos os dados, notamos que os familiares faziam perguntas e até mesmo brincavam com o equipamento, solicitando algumas piadas. Além do entretenimento, os familiares explicaram que o uso da IA beneficiou não apenas as pessoas com deficiência, mas também suas famílias ou aqueles que prestam suporte, reduzindo a necessidade de presença constante para realizar atividades solicitadas.

O “lado sombrio” de uma tecnologia inteligente em casa
O surgimento de novas tecnologias também traz desafios. Após testarem a casa “semi-inteligente”, pessoas com deficiências físicas e visuais relataram dificuldades para integrar o assistente de voz a outras tecnologias existentes, ou até mesmo para realizar certas atividades e configurações. Um exemplo: a inclusão de serviços de streaming de vídeo e música não foi uma tarefa simples. Para os participantes do estudo, ainda é necessário que complexidades técnicas sejam simplificadas para atingir um modelo verdadeiramente “plug and play”.

O estudo também revelou preocupações com o lado sombrio da tecnologia. A ideia de se ter um dispositivo conectado à internet realizando tarefas dentro de casa levanta questões de vigilância digital e proteção de dados. Uma participante destaca: “O que eu faço em casa fica registrado nesse aparelho, e alguém pode acessar minha rotina e informações. Isso é preocupante, principalmente porque sou deficiente visual”.

Por outro lado, alguns participantes veem o acesso às suas informações, principalmente para fins comerciais, como um “trade-off” aceitável em troca dos vários benefícios proporcionados pela IA, desde que isso não os coloque em situação de risco.

Um gigantesco passo na qualidade de vida

Apesar das dificuldades e desafios, o uso de tecnologias de IA promete continuar revolucionando essa área de apoio a pessoas com deficiência. O rápido desenvolvimento da IA no reconhecimento de ambientes, cores e formatos , por exemplo, pode representar um avanço significativo para pessoas com deficiência visual. O uso de robôs autônomos conhecidos como “humanoides” – já apresentados pela Tesla – pode revolucionar o cuidado prestado a pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida. Em janeiro

A certeza que temos hoje é que estamos trilhando um caminho sem volta, e a tecnologia estará cada vez mais presente em nossas vidas. Contudo, à medida em que avançamos, precisamos garantir que a IA seja uma tecnologia acessível e que, acima de tudo, existam regulamentações que protejam todos, mas em especial os mais vulneráveis.

Higor Leite – Professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná

*Artigo republicado da página The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o original aqui!

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